Fevereiro de 2016
Chego neste quarto, abro a porta e não me encontro. Dias incomuns, objetos incomuns. Não me encaixo, em um momento o espaço é pequeno demais, em outro é muito grande. Os sapatos estão apertados, as roupas folgadas. Calço meus chinelos para não pisar no chão gelado, pego a xícara de café que ficou ao lado da cama no dia anterior. A solidão ainda não é minha amiga. As palavras dela são amargas, o silêncio é ensurdecedor. Devaneios, suspiros, lamentos. Será que a tempestade não vai parar agora? Às vezes ela vem, varre tudo e leva com ela toda a dor. Mas em outras, ela vem e fica, deixa tudo cinza e molhado, e esse barulho irritante.. Tomo um gole de café, tá gelado. Pego uma folha sulfite e escrevo no centro com letras garrafais “NOTAS SOBRE DIAS INCOMUNS”. Pego outra folha e isso vai nascendo:
Se a máscara que me veste cair
Toda a dor vai sumir?
Sinto o mundo escorrer pelos meus dedos
Meus olhos já não aguentam mais
O meu coração se dilacerou
Por dentro tá tudo cinza
Para os que me olham
Só a vida que segue
Seu fluxo contínuo
E o repuxo me puxou pra baixo
Não enxergo nada daqui
Tá tudo escuro
Eu só queria poder fugir
Sumir
Desanuviar e desaguar no mar.