Luciene Carvalho
Beiço de negra,
Pronto pro beijo
E p’ra palavra certa.
Sou toda assim.
Cabelo pixaim.
Juba de pantera
Sou fera
De inteligência rara
E brilho certo.
Não chegue perto,
Você não me doma.
Se deita em minha cama
Ainda se apaixona.
Não entre em minha redoma,
Sei do prazer da carne
Que é negra e doce
Antes fosse submissa…
Não o é, não o é.
Tarde ou cedo
Você perde o medo
Vai querer provar
De que vale,
O dia sem o risco?
Sou raio negro, corisco.
E o beiço da preta
Se escancara em riso
– Sabe a dor-
O olho preciso
É convite azeviche
Gozo de piche
Sonho negro azul.
Luciene Carvalho é poeta, escritora, e a primeira mulher negra a integrar a Academia Mato-grossense de Letras ocupando a cadeira de número 31.