Quando minha irmã me emprestou “Flores Azuis” da Carola Saavedra para ler, eu não imaginava o impacto que este livro causaria em mim. A escolha das palavras, a maneira de construir a narrativa, os diálogos, os ecos de cada personagem, a repetição de termos e trechos, tudo isso me arrematou, como se aquela história tivesse sido escrita para ser lida por mim. Senti que aquelas palavras, de certa forma, me pertenciam. Esse envolvimento é o que causa um verdadeiro romance. Carola Saavedra tem essa sensibilidade de nos transportar para dentro de suas páginas. A escritora é considerada uma das melhores da nova geração de autores brasileiros, tendo conquistado prêmios como APCA (Associação Paulista dos Críticos de Arte) e Rachel de Queiroz, por Flores Azuis e Paisagem com dromedário, respectivamente. Nascida em Santiago, Chile, em 1973, veio para o Brasil com a família aos três anos de idade. É formada em jornalismo (será daí a nossa identificação imediata?), e trabalha como tradutora de alemão e espanhol. Escreve contos. E tem o poder de fascinar pela linguagem fluída. Outro fascínio que exerceu em mim foi pela acessibilidade. Entrei em contato via Instagram e propus esse bate-papo sobre literatura. O convite foi aceito e encaminhei algumas perguntas por e-mail. Carola Saavedra, que bom descobrir que você existe. Obrigada pela potência da sua escrita e continue a nos envolver em suas tramas, tecendo novas teias de significado para os apaixonados por literatura.

- Como surge a sua relação com a literatura e com a escrita? Como você se 
descobriu escritora? 

Eu sempre quis ser escritora, desde criança. Acho que o desejo veio a partir do meu amor pelos livros, pela leitura. E foi amor mesmo, lembro de como aquilo me fascinava, a possibilidade de viver outras vidas nesta única vida que temos. De certa forma, é algo que continua me fascinando, esse desdobramento.

- Como é fazer literatura no Brasil, especialmente, no caso de escritoras 
mulheres?

É difícil, sempre é, são muitos aspectos que dificultam, o principal deles é o fato de sermos um país de não-leitores, então há logo de saída uma dificuldade básica. Fora isso, sim, ser mulher é difícil em qualquer área, já que as mulheres estão inseridas numa estrutura patriarcal que se reflete em tudo. No que diz respeito à literatura, cito uma típica característica dessa estrutura: se uma mulher escreve sobre mulheres ela escreveu um livro “feminino” ou “de mulher”, já um homem que escreveu sobre homens escreveu uma história universal.

- Quais são as suas principais 
referências literárias?

São muitas e variadas, mas para citar algumas: Clarice Lispector, Hilda Hilst, Conceição Evaristo, Ingeborg Bachmann, Sor Juana Inés de la Cruz, Jorge Luis Borges, Juan José Saer, Macedonio Fernández, Robert Walser, María Luisa Bombal, Cristina Peri-Rossi, Alejandra Pizarnik, Julio Cortázar, Machado de Assis, Gloria Anzaldúa.

- Na literatura, muitas vezes, autor e obra se confundem. Você acredita que é 
necessário um distanciamento do escritor? É possível fazer literatura sem essa 
imersão na própria vida e história? Como é esse processo para você?

Acho que a resposta é sim e não. Se ficarmos presos na própria vida escreveremos uma espécie de querido diário, que não interessa a mais ninguém. Por outro lado, se não nos aprofundarmos numa verdade pessoal, se não tirarmos a história do próprio desejo, do próprio corpo, do inconsciente, teremos uma ficção vazia, sem alma. O processo é um caminho do meio, a matéria prima, num sentido do inconsciente, é minha, por outro lado, há um longo trabalho de distanciamento até chegar ao livro, até chegar no outro, no leitor.

- O que mais te fascina em um livro?

Essa possibilidade de se desdobrar, de criar outras vidas, outros espelhamentos, experiências que sem a leitura jamais teríamos.

- O que te move na hora de escrever?

O desejo, sempre o desejo.

- Qual conselho daria para novos escritores? 

Desejo, porque sem desejo a gente não vai nem na esquina. Depois trabalho, muito trabalho, e por último, paciência, uma paciência de monge tibetano.

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Marianna Marimon, 30, escritora antes de ser jornalista, arrisco palavras, poemas, sentidos, busco histórias que não me pertencem para escrever aquilo que me toca, sem acreditar em deuses, persigo a utopia de amar acima de todas as dores. Formada em jornalismo (UFMT) e pós-graduação em Mídia, Informação e Cultura (USP).

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