A primeira vez que fui ao Coloiado estava meio reticente, afinal, era o segundo dia de funcionamento e como toda boa novidade de Cuiabá estaria fervilhando de gente. Estacionamos com relativa facilidade, descemos, escolhemos nossos lanches e em menos de 10 minutos estávamos com eles em mãos procurando por uma mesa. A preferência era pelo bar onde podíamos beber cerveja. Enfim nos acomodamos e pudemos apreciar nosso lanche. Carne desfiada com queijo coalho e um molho de vinagrete no pão francês.

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A cerveja chegou gelada. Desfrutamos do momento. A estrutura do local é toda ao ar livre como um verdadeiro Food Park. Os estabelecimentos ficam em containers e todos são pequenos. O espaço de uma cozinha e o balcão para atendimento. Comentamos que a sensação era de não estar em Cuiabá. O lugar nos surpreendeu. O preço acessível, afinal, um dos meus medos era de que a comida tivesse o tal do raio gourmetizador. Mas não. Os lugares que comi possuem opções rápidas.

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Voltei na noite de quinta para experimentar a pizza da Devora Pizza Shop. Como havia chovido a tarde, os ventos sopravam frescor. Dizem que é a tal chuva do caju que vem para molhar este agosto seco. Foi o exato tempo de uma conversa e o painel apitou a nossa senha. A pizza estava pronta. O tamanho perfeito para uma refeição. Pizza de shimeji com ricota e quatro queijos com ricota. Nutella com creme de ricota e morangos. Devorei. O preço estava tão agradável quanto a pizza, que perguntei: feita na hora e a massa é deles também.

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Pizza de quatro queijos com ricota e pizza de shimeji com ricota

Converso com um dos meninos do A Francesa – o primeiro lugar que comi e já experimentei os três lanches e todos deliciosos – o Lucas de 21 anos. Menino novo trabalhando num negócio próprio em sociedade com o amigo Cleiton. A ideia deles é o verdadeiro conceito de Food Park: comida rápida, gostosa e preço bom. Tem pão francês com linguiça toscana, cream cheese, rúcula e cebola roxa. Tem pernil desfiado com mussarela, geleia de pimenta e alface americana.

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O que gostei de ver no Coloiado é que a maior parte dos proprietários inventaram seus pratos, seus conceitos e trabalham para o próprio sustento. São amigos, parceiros, famílias. Muitos já são conhecidos em Cuiabá. Lucas conta que o Rei do Mocotó veio da feira, tem o CPA Burguer, Fundo de Quintal, Tal do Bistrô, as massas caseiras do chef Diego Bertolini no Al Capone. É comida de verdade, feita na hora.

É interessante valorizar a produção do que temos de regional, as interpretações da nossa terra na culinária, inovações, reinvenções. E o lugar tem uma pegada de cidade grande que Cuiabá tem em alguns pontos e contrasta com esse lado histórico, tradicional dos seus 297 anos. A única coisa que me desagradou foi a música ambiente, mas tolerável pela qualidade da comida. Ah, e ontem também teve a inauguração de outro container, com uma dançarina das arábias ao som da trilha sonora de Caminho das Índias (achei engraçado). Enquanto isso no bar música ao vivo.

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Lucas comenta que repararam que quem volta acaba trazendo outras pessoas para conhecer, mas que nem todos os clientes retornam. Muitos devem pensar como eu anteriormente, de que por ser novidade estaria muito lotado. Mas não. A rotatividade é grande. As pessoas chegam comem, conversam, bebem. Enquanto conversamos vejo a intervenção de Rafael Jonnier nas paredes. Suas cores ganhando vida no concreto. E tem tudo a ver: comida, arte, essa troca entre as pessoas.

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Desejo ao Coloiado vida longa e que continuem na simplicidade, em apresentar seus conceitos, conversar, abrir as ideias para que as pessoas conheçam mais sobre a comida. E também se não for pedir demais, valorizar os artistas locais, temos músicos de toda a diversidade em Cuiabá, com música autoral. Isso atrai, movimenta e nos enche de vontade de consumir amor, arte, afeto. Tudo isso é alimento para a alma.

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Marianna Marimon, 30, escritora antes de ser jornalista, arrisco palavras, poemas, sentidos, busco histórias que não me pertencem para escrever aquilo que me toca, sem acreditar em deuses, persigo a utopia de amar acima de todas as dores. Formada em jornalismo (UFMT) e pós-graduação em Mídia, Informação e Cultura (USP).

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