As nuvens escuras passam diante dos meus olhos, a brisa da noite toca a minha pele e anuncia o fim de mais um dia. Deito na rede e escuto o barulho da água da fonte, quase como rio que nasce ou cachoeira que cai.
Sinto ao longe o cheiro de cigarro queimando, será mais um pretexto para lembrar de você? Só se enrola com essa história. Fuma um atrás do outro. Você, cigarro, eu, baseado. Embolados no mesmo papel, queimando na mesma brasa.
Respiro esse ar gelado enquanto penso em detalhes tão pequenos que só poderiam ser vistos por um microscópio. Mas é a olho nu que eu vejo as sutis linhas de felicidade marcadas no seu rosto. Esse olhar profundo que me atravessa e me encara, sem medo. Eu balanço e tento me segurar no concreto, você se lança certeiro e me metralha com suas palavras. Perco o rumo, perco o chão. Só viva. Feche os olhos e estale os dedos. Só viva.
Esse momento que cabe na palma da mão. Tateio no escuro e não te encontro. Lembro daquela noite que te procurei e você não estava. Outras noites como essa virão. Mais uma saudade registrada no toque dos dedos. Entorpeço, acordo, me mexo, movimento, te vejo de longe me olhando, te vejo de perto distraído, a cabeça longe pensando sabe lá o que. Espero que seja em mim.
Desço da altura da fantasia, encaro o chão e vejo o tamanho da queda. Me assusto, me escondo, te expulso, te digo que te quero longe, me viro no escuro, adormeço, acordo, tateio, te busco. Você se foi. Você realmente se foi. Aqui só restou a poeira cósmica dessa teia de lembranças intrincadas.
AMEI ! Muito intenso, é mais que um poema.
Brincou seriamente com palavras e sentimentos.
Amores começam assim, como quem não quer nada.
O amor está só de passagem? – Será que é miragem?