Wilson Padilha*

o brasil se arma

de verde e amarelo

 

e eu relutando

assisto ao espetáculo surreal

 

tragédia anunciada

pela boca

boçal.

 

a verdade de quem vos libertará

e vocifera

com línguas de fogo

no olhar

 

a roda do tempo

gira para trás

brincando de roleta…

 

lançada a sorte,

dezessete pontos

somando dados

distorcidos

e

deformados:

o ventre balança

contra a lança

 

*****

 

robôs

desfilam

ignorância

e levam

destruição

louvam

a bandeira

invertida

sobre a mesa

corrompida

do café da

manhã

com agrotóxico

tóxico

é o amanhã

seguem

indiferentes

marcham

armados

bolados

o grito

mito

vômito

ensandecido

que ecoa

pela city

expõe

nossa fragilidade

enquanto presa

prezamos

a liberdade

mas o sangue

pisado

mancha

o passado

e a ciência

pesa a

consciência

histórica

 

*****

 

Senhor,

De que pedestal fala

como gralha

empolada?

 

De qual janela

cala os gritos

dos meninos

entulhados

e famintos?

 

Qual autor que matas

na seleta casta

da velha prata

literária?

 

De óculos escuros

bem cobre os olhos

da luz que brota

além dos muros

 

dos bairros mudos

das sessões solenes

 

 

Wilson Padilha, poeta, escritor e professor universitário em Cuiabá-MT

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