Fomos tomar um café com o escritor e poeta Matheus Guménin Barreto e ele abriu alguns livros e a história de quando o seu caminho se encontrou na literatura.
Equipe: Carol Marimon / Eduardo Ferreira / João Fincatto / Marcelo Almeida
7 POEMAS DE MATHEUS GUMÉNIN BARRETO
CANTO DE DISSOLUÇÃO
Sepultadas no tempo
deitam-se as coisas todas,
que já nem coisas são,
mas memória de coisas.
Sepultados no tempo
afundam-se os rostos
todos, ou quase todos,
e as datas, risos, gostos.
Sepultadas no tempo
jazem as nossas vidas,
num tempo em que não são
nem gozo nem ferida.
Sepultados, enfim,
no tempo, todos nós.
Onde não há nem feito,
nem pessoa, nem voz.
*
SE QUESTO È UN UOMO
Como é possível
um homem?
Pra quê? Pra que
lhe deram nome?
Que faz o homem?
Se, mal existe,
já some?
Como é possível
haver um homem?
Melhor seria
tivessem gasto
a Criação
em rios, em pedra,
em bicho, em prado,
em homem não.
O homem nasce,
vê, come e morre
já sem perdão.
*
O ÚLTIMO POEMA OU RIO LETE
A cabeça no limbo do tempo.
Descansar já sem rosto e sem nome
e, deitado no córrego insone,
esquecer-se do bicho, do homem
e, com o tempo, esquecer-se do tempo.
*
NESTE TEMPO
Neste tempo de horror
neste tempo
neste tempo sem tempo
de mãos crispadas e inverno nos dentes
de risos que não são
– só o amor que há é o dos bichos
e o das memórias frescas,
recém-cortadas.
*
TUDO ESTÁ POUSADO NOS OBJETOS
Tudo está pousado
já nos objetos.
Batendo pulsando leve
tudo está já nas coisas
à espera do toque
um só
que o abra em flor
e estrume.
A pedra o cão o pássaro
o carro a moto o prédio
[olha olha agora]
tudo
já contém o que resultará
da matemática da poesia
equacionada por um toque.
*
PARA O POEMA DESTA PÁGINA
“Dedicado a Matilde Campilho, que sem saber me ensinou.”
para o poema desta página:
a – abrir a janela mais próxima
b – faltando a janela, criar uma
c – ver: flor. ou muro. ou golfo. ou merda. ou um casal descobrindo o mapa-múndi no corpo um d’outro.
d – repetir os passos anteriores.
*
INÚTIL
Inútil
inútil o gesto o plexo o beijo
inútil o desejo e o não-desejo
[igualmente
Inútil inútil o salto e a pausa
Inútil a mão no ombro alheio
[e próprio
Inútil soberanamente inútil
o gesto o plexo o beijo
nas campinas afiadas de verde
nas geometrias escuras da mente
e essa vontade de amar.
[…] as palavras de Matheus Guménin Barreto enquanto tomava o meu café quente. Do outro lado da tela, o escritor dividia comigo a trajetória […]