Certas pessoas são imprescindíveis para a arte e para a cultura, para a vida. Para fazer as coisas acontecerem. Roberto Victório é um desses.
A persistência somada a um impulso que é essencial no ser humano. O impulso que motiva a dar os primeiros passos. Mais que isso, sua continuidade. A história da Bienal de Música Contemporânea em Mato Grosso está umbilicalmente ligada ao esforço pessoal de Roberto Victório. Desde a primeira bienal ele se entrega arduamente à tarefa de realizar os eventos quase que de forma suicida. Explico: música de concerto não atrai interesse comercial, tem um público restrito e as atrações que têm vindo se apresentar em Cuiabá muitas vezes vêm de fora e fica caro bancar tudo isso. Com pouco apoio de empresas e nenhum de incentivos culturais estatais. Sobra para o maestro/compositor, premiado em vários países, a conta para pagar.
Esse negócio de música contemporânea parece uma coisa complicada. Mas não é. É antes de tudo uma liberdade de criação e pesquisa sonora que estimula o avanço, que se alarga, se alonga. Expande o conhecimento musical e abre outras camadas aparentemente invisíveis. Tudo que se reveste de possibilidades sonoras é bem vindo nesse caleidoscópio extra cromático.
Desde a primeira bienal estamos juntos nessa empreitada, ali do lado, fazendo comunicação, palestras, filmando. Roberto Victório na verdade conta com um time de parceiros e colaboradores dentro do próprio curso de música na UFMT como Terezinha Prada, Zeca Lacerda, Oliver Yatsugafu, Flavia Vieira, Michael André e outros mais.
Alegorias e ambiências também são bem vindas. O fluxo é livre e perfaz caminhos inusitados surpreendentes na capacidade composicional. Parece tarefa simples. E pode ser, tanto quanto complexas. Cada peça é um universo em si. Pode ser em qualquer nota ou qualquer tom. Até o Tom Zé dá para dizer que flerta com a música contemporânea espalhada pelos universos sonoros do pop passando pelo erudito ou vice versa.
Faço aqui uma reflexão: o que efetivamente move o homem, capaz de suportar o mundo nos ombros, capaz de dar a mão em correntes de extensões múltiplas solidárias criativas ativas?
A Bienal de Mato Grosso virou marca – mesmo que não seja de dois em dois anos mas que faz na marra quando consegue unir os pontos de interesse, que na realidade interessa para o estado, mas finge que não vê. Mas uma questão se impõe: como financiar isso? Como a vanguarda vai conseguir bancar suas ousadias e experimentações? Sim. Por que são raras as casas que investem em música de concerto. São raras as audiências, mídias, mas tem brechas para sobreviver resistir avançar
A arte vai sempre ser o refúgio para os mais destemidos. Sabedores de seus papéis atemporais.
V BIENAL DE MÚSICA BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA DE MATO GROSSO
A música, e a música contemporânea especificamente, reflete uma infinidade de experiências sonoras que, em sua eterna busca pelo novo, aglutina as possibilidades de sons, ruídos e uma enorme gama de simbioses sonoras, onde tempo e espaço se fundem em um único continuum que transita em ambiências absolutamente inovadoras.
A V Bienal de Música Brasileira Contemporânea de Mato Grosso pretende dar continuidade ao processo de divulgação da música de concerto e seus inúmeros afluentes que são radical e paradoxalmente excluídos dos meios de veiculação da mídia. Escutas que permitem o acesso a um universo sonoro inimaginável, mas real, apesar do distanciamento imposto entre as fontes criadoras e os ouvintes.
Um acontecimento desta natureza, que reúne os maiores nomes da música contemporânea de concerto do Brasil, tem como meta, em primeira instância, estimular o desenvolvimento intelectual e espiritual das pessoas a partir das simbioses estabelecidas entre os participantes e o público, além de formar uma egrégora em torno do evento que permitirá não só a manutenção do fluxo criativo, mas a hierofanização do mesmo a partir dos pensamentos e das sonoridades que o envolverão.
Seis dias de música da mais alta qualidade com uma mostra importante da produção sonora de concerto dos compositores mato-grossenses que saíram dos cursos de graduação e mestrado da UFMT e compositores consagrados de todos os cantos do país. Seis concertos com os melhores grupos e intérpretes de música contemporânea do Brasil. Seis viagens sonoras-iniciáticas que colocarão o Estado de Mato Grosso em destaque no cenário musical brasileiro, e ainda bem, sem a possibilidade de retorno ao mundo da previsibilidade.
PROGRAMAÇÃO
DIA 22
QUARTETO LETHA
No programa da V Bienal de MT serão montadas obras exclusivamente de compositores mato-grossenses, todas em primeira audição mundial.
TRIO DE VIOLÕES DA UFMT
O Trio é fruto do curso de bacharelado em violão da UFMT onde todos tiveram a orientação da violonista e professora Teresinha Prada. O início do Trio se deu em função da obra “Sonata II” do compositor carioca/maranhense, Marcelo Moreira, que foi objeto de TCC de um dos integrantes – Jone Luiz – que também é compositor e apresentará o seu “Estudo Curto” em primeira audição mundial;
Além das “ExoMiniaturas VII, de Roberto Victorio que se integrará ao Trio, que é formado pelos músicos William Agnelo, Thiago Augusto e Jone Luiz, para estas montagens e a participação de Hoberdan Peno como convidado.
DIA 23
FABIO PRESGRAVE
Apresentou-se como solista em orquestras como Qatar Philharmonic, Orquestra Filarmônica de Rosário (Argentina), OSB, Orquestra Sinfônica de Porto Alegre, OS Municipal de Campinas, OS Paraná, OS Bahia, OS Minas Gerais, dentre outras.
Indicado ao Prêmio TIM, registrou em CD obras de José Siqueira e Camargo Guarnieri com a Camerata Fukuda e Celso Antunes. Gravou com o violinista Daniel Guedes obras de Piazolla e Villa-Lobos e com a Orquestra da ULBRA o Noturno de Tchaikovsky para a trilha sonora do filme Sal de Prata do diretor Carlos Gerbase. Apresentou-se em recitais Orchestrazentrum de Dortmund, na Espanha, na Kamper Konzert, no Musikhuset de Aarhus na Dinamarca e no “Villa Musica” em Mainz na Alemanha.
Prêmio Carlos Gomes em 2006, atuou como professor convidado na Sibelius Academy (Finlandia), Royal Academy of Music (Dinamarca), Muenster MusikHochSchule, Folkwang Universitat der Kunste (Alemanha), Universitaet der Kuenste (Alemanha).
DIA 24
[re]PERCUTE UFMT
Recentemente, o grupo viajou o estado com o espetáculo «[re]Percutindo Mato Grosso» e gravou um álbum (disponível on line) contendo colaborações de compositores locais e estrangeiros de renome, se tornandoum importante marco da música contemporânea em MT.
Zeca Lacerda é Bacharel em Percussão pela UF de Santa Maria, Mestre em Percussão pela University of Miami e Doutor em Música Contemporânea pela Bowling Green State University, além de percussionista atuante na cena musical contemporânea. Já trabalhou e/ou estreou obras de grandes nomes como Bob Becker, Christian Wolff, Elliott Sharp, George Lewis, Gabriela Ortiz, James Romig, Jeff Herriott, John L. Adams, Lewis Nielson, Roberto Victorio, Thomas DeLio, Stuart Saunders Smith e outros.
Já tocou com a OSB e a Orquestra Petrobrás Sinfônica. Seu álbum solo «When still: new music for solo vibraphone» foi lançado pelo selo Soundset Recordings. Atualmente, Zeca integra o grupo contemporâneo Abstrai Ensemble.
DIA 25
STANLEY LEVI
Professor efetivo de violão na ESMU-UEMG, professor efetivo de violão no Departamento de Artes da Unimontes e no PRONATEC da UFMG.
Atuou na Fundação Municipal de Cultura da Prefeitura de Belo Horizonte, além de ter sido professor de Teoria Geral da Música da UFMG.
MARCOS MATTURRO
O violonista Marcos Matturro é Mestre em violão pela UFMG, e doutorando em performance musical. Recebeu o 2º lugar no 30º Concurso Latino-americano Rosa Mística em Curitiba, 2011.
Em 2012, foi aceito na Cátedra de Interpretação de música Latino-Americana, oferecida pelo violonista Eduardo Isaac.
Gravou com o Quarteto de Guitarras do Mercosul no álbum Break!, atua no DuoContra, com o qual participou da Convenção ISB 2017 EUA.
DIA 26
TRIO SEXTANTE
Formado pela soprano Rose Vic, o violonista Gilson Antunes e o compositor Roberto Victorio, o Trio é uma das formações mutantes do Grupo Sextante que teve seu início no Rio de Janeiro, em 1986, e realizou desde então mais de duas centenas de estreias mundiais, tendo gravado dois CDs, três DVDs e realizado inúmeras turnês pelo Brasil.
ROBERTO VICTORIO
Bacharel em violão e regência. Mestre em composição e Doutor em etnomusicologia, tem mais de duas centenas de obras gravadas e executadas nos principais eventos no Brasil e no exterior.
Dentre os inúmeros prêmios: Latino Americano para orquestra (Uruguai); Contrechamps (Suiça);Festival Internacional de Composição (Hungria); Sociedade Internacional de Música Contemporânea (Romênia); Tribuna Internacional da Unesco/Paris(1995/97/99); Oldenburg Festival (Alemanha); BAM Dialogue (Holanda).
Como regente atuou com a Orquestra de Câmara do Rio de Janeiro, com a Orquestra Sinfônica da Universidade Federal de Mato Grosso, com o Grupo Música Nova da Universidade Federal do Rio de Janeiro, com grupos formados nas Bienais de Música Contemporânea do RJ, e com a Camerata Aberta de SP no Festival Internacional de Campos.
ROSE VIC
Natural do Rio de Janeiro, iniciou seus estudos de canto com Lydia Podoroslky, Marcos Louzada e Paulo Prochet, ingressando na Universidade do Rio de Janeiro na classe de Eliane Sampaio.
Participou do Projeto Opera Brasil, em RJ, tendo realizado inúmeros concertos com a Orquestra Sinfônica Brasileira em diversos Estados.
Atuou como solista em grupos como: Grupo de Percussão da UNESP/Piap, Orquestra de Câmara do Rio de Janeiro, Orquestra Sinfônica Nacional, Orquestra Sinfônica Brasileira e inúmeros grupos dentro das Bienais do Rio de Janeiro e Festival Música Nova de São Paulo.
Com o Sextante, do qual é membro fundador, realizou mais de uma centena de estreias mundiais de obras de compositores brasileiros.
GILSON ANTUNES
Paulista, com 29 anos de carreira, já foi tema de documentários e especiais de rádio e televisão e artigos em jornais e revistas. Estudou na Guildhall School of Music, em Londres, tendo seu mestrado e doutorado em Artes na USP.
Apresentou-se em países como Israel, Cuba, Estados Unidos, Inglaterra, Itália, Espanha, Portugal, Uruguai, Paraguai, Argentina, Colombia, Venezuela, Peru e México.
Gravou cinco CDs solo e fez participação em mais oito. Entre os principais eventos que criou e dirigiu estão o Concurso Nacional de Violão Musicalis, Festival de Música de Ourinhos, Seminário Internacional de Violão Vital Medeiros e Mostra Musicalis.
DIA 27
EXOQUARTETO
Formado neste ano de 2018 especificamente para a V Bienal de Música Brasileira Contemporânea de MT por professores e músicos do Departamento de Artes da UFMT, tendo como eixo formador-instrumental a obra “ExoMiniaturas X” de Roberto Victorio, que foi dedicada aos integrantes do grupo.
Neste programa serão apresentadas obras inéditas de alunos e compositores mato-grossenses que passaram pelo curso de composição e de alunos ainda atuantes no bacharelado, licenciatura e mestrado; além de compositores do Rio de Janeiro e São Paulo.