Moro no centro oeste do Brasil. À distância de lá até o mar é com certeza perto de três mil quilômetros ou mais. Não sei precisamente. Teria de consultar o mapa, mas tenho pressa em escrever e por isso vou pular esta parte e ir direto ao percurso que me levou ao mar numa madrugada tépida do mês de janeiro.
A estrada nos carregou sem nenhum esforço. Não havia trânsito. O mar oceano surgiu ao longe na descida da serra. Pontilhado de luzes. Cidades praianas margeando as areias das águas salgadas. O ar marinho denso. Levado pelo vento leste.
O dia seguinte nos brindou com uma grande festa. A alegria brincava nas ondas, as nuvens cobriam com uma cortina suave o brilho intenso do sol, dominando o alto do céu claro.
Música, gente, barulho, o burburinho das pessoas comemorando a vida pelo simples prazer de celebrar o momento. A tarde se expandiu em luz até se transformar em noite quando o dia findou no espelho prateado das águas onde crianças corriam, como figuras recortadas contra a última luminosidade do horizonte imenso.
Pálidos rosas surgiram no contorno das nuvens azuladas. A grande sombra da noite cobriu a terra preparando a chegada de mais outro dia.
O amanhecer surgiu em cores. A lua nova sorria no azul profundo, brilhante como uma joia de luz no gigantesco cálice da aurora. E quando o sol enfim rompeu a linha do horizonte, encheu de energia a atmosfera. Uma moça bonita passou sorrindo um ligeiro bom dia.
Depois veio o ocaso novamente e com ele outro momento de silêncio. As ondas espumantes recuaram ao fundo deixando nas margens uma lâmina fluorescente. Mais um dia se foi e esperei outra nova aurora como aquela.
Mas na manhã seguinte o encanto já não foi o mesmo. Nuvens densas escuras impediam o sol de espalhar suas cores. As gaivotas em bandos voavam em torno, deslizando suas asas no espelho de águas rasas.
Já nas areias, pessoas cinzentas se aglomeravam em diversos pontos da praia.
A moça bonita passou, mas não disse bom dia. Uma nuvem escura cobria seu olhar e o sorriso não se desenhou no rosto desse dia. Voltei-me para o mar e percebi o quanto estava turvo. As ondas batiam na areia com irritação contida. O mar me disse então na voz das ondas. -“Hora de partir, para preservar o encantamento e ter a alegria de retornar sempre a estas lembranças, no vasto oceano da memória.”